Sentimentos e Condutas

09 maio 2016
sentimento
Imagem:Google
Em tempos de crise, em momentos de “farinha pouca meu pirão primeiro”, vivenciamos ações e reações em nossos corações e nas pessoas que nos cercam, em que de verdade separamos “o jóio do trigo”, os de elevado valor comportamental, os que deixam aflorar o pior de si, ou aquilo que podem e são capazes de oferecer.

Nesses momentos de perdas, demissões, crises politicas, crises financeiras, stress e sociedade adoecida, enxergamos claramente o egoísmo, o despeito, a cobiça, a vaidade, a prepotência, a ambição, as jogadas de interesse. mas também conseguimos admirar quem se destaca por compaixão, generosidade, e outros sentimentos que nos fortalecem.

Pesquisando sobre sentimentos encontrei um artigo interessante publicado na Escola Paulista de Psicodrama , cuja bibliografia transcrevo abaixo;

Dias, Victor R. C. Silva e colaboradores
Psicopatologia e Psicodinâmica na Análise Psicodramática
Volume III
Editora Àgora, 2010 (no prelo)

 

“Não podemos falar do ser humano sem falar de seus sentimentos.

Todos nós nascemos com a capacidade de sentir todos os sentimentos.

 

 “Sentimentos vêm de fábrica”

 

Todos os sentimentos são ou foram importantes para a vivência e para a sobrevivência da nossa espécie.

Não existem sentimentos bons ou sentimentos maus, mas sim, sentimentos mal administrados

Os sentimentos podem ser encarados como problemáticos ou patológicos quando:

• Eles estão francamente em confronto, com valores morais de uma determinada sociedade, num determinado tempo, de uma determinada época.

• Eles estão misturados com extrema angústia.

Valor  moral é o conjunto de normas que regem o comportamento e os procedimentos de uma população, num determinado tempo, de uma determinada era e numa determinada cultura.

 

O Código Moral é variável, para as épocas, e para as culturas.

São veiculadas pelas famílias, escolas, meios de comunicação e basicamente pelas religiões.


Esse código moral único, entre outras coisas, acabou por separar os sentimentos em: sentimentos bons e sentimentos maus.

Dessa maneira os sentimentos bons deveriam ser estimulados, e considerados como virtudes, ao passo que os sentimentos maus deveriam ser reprimidos considerados como pecados e passíveis de culpa.

Dessa forma, os sentimentos ganharam um valor moral e foi se perdendo o valor essencial do próprio sentimento.

O valor essencial do sentimento é a sua verdadeira função na vida, na sobrevivência e nas relações do ser humano, sem a interferência dos ditames legais.
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Esse rótulo moral, agregado ao sentimento, passou a definir e qualificar o próprio sentimento e se perdeu a noção da função básica destes sentimentos dentro da vivência e da sobrevivência da espécie humana.

Esses sentimentos (bons ou maus) precisam for bem administrados em especial o conflito resultante entre o valor moral e o valor essencial.

Seguem alguns sentimentos e como podem ser rotulados:

Egoísmo:
Valor moral – mau
Valor essencial: é um sentimento de auto proteção. Se o indivíduo não cuidar de seus próprios interesses ele acaba sendo espoliado.

Mesquinhez/usura:
Valor moral: mau
Valor essencial: é também um sentimento de autoproteção. Se o indivíduo não cuidar de seus bens materiais e tiver um controle sobre eles, acaba sendo espoliado.



Vingança:
Valor moral: mau
Valor essencial: é um sentimento ligado ao respeito. Se o indivíduo não dá o troco quando é agredido ele acaba sendo invadido e desrespeitado. “Só se respeita cachorro que morde”.



Ambição:
Valor moral: mau
Valor essencial: ligado à procura do sucesso e de ser bem sucedido, de lutar para conseguir seus objetivos. De ter, “garra”, na vida.



Vaidade:
Valor moral: muitas vezes negativo
Valor essencial: é ligado a auto-estima. É necessário se gostar e se admirar para se auto-valorizar.


Interesse:
Valor moral: mau
Valor essencial: é ligado à capacidade política. A política é a arte de identificar e conjugar interesses. Para ser bem sucedido, numa comunidade, é necessário ter capacidade política, traçar e escolher alianças.



Prepotência:
Valor moral: mau
Valor essencial: é o sentimento ligado à liderança. O chefe, o líder, o rei, o presidente, precisam se impor para serem merecedores de crédito e para o exercício do poder. Por sua vez, a Humildade (valor moral: bom), mal administrado pode levar um líder a descrença e ao desrespeito.



Ciúme:
Valor moral: Mau
Valor essencial: é um sentimento ligado as a funções construtivas. É o zelo, o cuidado com objetos e com as pessoas amadas. É o cuidado de manter e preservar relações.



Vergonha:
Valor moral: bom
Valor essencial: é o sentimento do pudor. É ligado à adequação social. Não fazer ou apresentar coisas que o desabonem.



Admiração:
Valor moral: bom
Valor essencial: É um sentimento ligado ao aprendizado. O indivíduo quer copiar e imitar a quem ele admira.



Cobiça:
Valor moral: mau
Valor essencial: É um sentimento ligado ao desejo de igualdade. Quer ter a mesma coisa que o outro tem. É identificado com a necessidade de progresso. Querer ter sempre algo melhor.



Inveja:
Valor moral: mau
Valor essencial: É um sentimento ligado ao inconformismo e a revolta com as discrepâncias e com as injustiças. Eu não suporto que ele tenha e usufrua destes privilégios. Quero destruir essa injustiça. Porque o outro pode gozar dos privilégios e eu não? Lembremos que a carga destrutiva da inveja é dirigida ao prazer de ter as coisas, e não as coisas em si.



• Despeito:
Valor moral: mau
Valor essencial: É um sentimento ligado a importância, a hierarquia das escolhas. Eu não suporto não ser a pessoa escolhida, ser a pessoa preterida. A descarga do sentimento de despeito é a pessoa aceitar que não foi escolhida ou querida e ir procurar quem a escolha ou queira. O despeito deve ser absorvido pelo indivíduo preterido. Aceitar o fato de não ser aceito ou acolhido.


Generosidade:
Valor moral: Bom
Valor essencial: É um sentimento ligado a agregação e a socialização. Todos querem se aproximar da pessoa generosa.

Saúde mental é: a capacidade do indivíduo administrar suas condutas e procedimentos, entre os dois binômios fundamentais da convivência humana.

Esses binômios fundamentais são: de um lado o conceito moral do certo/errado, e do outro a parte instintiva e volitiva de querer/poder.

A administração desses binômios é feita pelo bom senso e pelo senso de adequação do indivíduo.
Uma repressão do binômio, querer/poder, leva esse indivíduo a uma submissão aos conceitos morais e a anulação de suas próprias vontades. Por outro lado, ignorar o binômio, certo/errado, leva esse indivíduo a só levar em conta seus instintos e suas vontades, tornando-o marginalizado e Inadequado ao convívio social.

É fundamental para a saúde mental, que o indivíduo administre, utilizando o seu bom senso e o seu senso de adequação, o conflito entre o valor moral e o valor essencial dos seus sentimentos e das condutas a eles vinculadas.”